O Brasil atravessa o auge da pressão cibernética: só no primeiro semestre de 2025, o país registrou 314,8 bilhões de tentativas de ataque, concentrando 84% das investidas detectadas em toda a América Latina e Canadá, segundo a Fortinet. Na prática, isso significa mais organizações sob fogo cruzado, mais superfícies expostas e uma conta que não para de crescer — o custo médio de uma violação já alcançou R$ 7,19 milhões por incidente no Brasil, de acordo com a IBM.
Nesse contexto, testes de intrusão (pentests) têm se destacado como uma das práticas mais eficazes para antecipar-se aos atacantes. Diferentemente de abordagens reativas ou meramente defensivas, o pentest consiste em “pensar como o hacker” – simulando ataques reais e controlados contra os sistemas da empresa, a fim de descobrir vulnerabilidades antes que sejam exploradas pelos cibercriminosos.
Trata-se de uma mudança de postura: sair da simples conformidade e partir para a caça ativa de falhas, fortalecendo a proteção antes que incidentes ocorram.
O que é pentest?
Pentest (abreviação de penetration test, ou teste de penetração) é uma técnica de segurança ofensiva em que especialistas simulam ataques reais a sistemas, redes e aplicações de uma organização, de forma autorizada e controlada, visando identificar falhas de segurança.
Tecnicamente, trata-se de um ataque simulado conduzido por profissionais (hackers éticos) que atuam como invasores, explorando vulnerabilidades tal como um hacker malicioso o faria – porém sem causar danos reais. O termo tem origem no inglês e começou a ser usado na comunidade de segurança nas últimas décadas conforme empresas e governos perceberam a necessidade de testar seus próprios sistemas sob a perspectiva de um ataque.
Um ponto importante é distinguir pentest de outras práticas de segurança, como varreduras de vulnerabilidade automatizadas ou auditorias de compliance. Varreduras de vulnerabilidade (Vulnerability Assessment) usam ferramentas automáticas para encontrar falhas conhecidas em sistemas, mas não tentam explorá-las nem avaliam impacto.
Já auditorias de segurança/compliance normalmente seguem checklists para verificar aderência a normas (por exemplo, verificar se configurações estão em conformidade com LGPD, PCI DSS, etc.), sem necessariamente realizar ataques simulados. O pentest, por sua vez, vai além: além de identificar as falhas, tenta explorá-las ativamente para comprovar até onde um invasor poderia ir em caso de ataque real. Essa abordagem prática demonstra as consequências reais de cada vulnerabilidade encontrada, fornecendo uma visão aprofundada dos riscos.
Na prática, a execução de um pentest envolve uma série de etapas estruturadas (planejamento, coleta de informações, ataque, pós-exploração, etc. – conforme detalhado adiante) e utiliza uma combinação de ferramentas automatizadas e técnicas manuais. Tudo ocorre sob contrato e autorização formal, garantindo que os testes sejam feitos de forma ética e segura.
Ao final, a equipe fornece um relatório com evidências das falhas encontradas, impactos potenciais e recomendações de correção. O objetivo final é fortalecer a segurança da empresa, corrigindo as vulnerabilidades antes que agentes mal-intencionados as encontrem. Em suma, o pentest funciona como uma prova de fogo controlada: a empresa enfrenta ataques simulados hoje para não ser surpreendida por ataques reais amanhã.
Tipos de pentest
Nem todos os ataques são iguais, e da mesma forma existem diferentes tipos de pentest para cobrir diversos vetores de ameaça. Abaixo estão os principais tipos de testes de intrusão e suas características, com exemplos práticos no contexto brasileiro:
Pentest interno: simula ataques partindo de dentro da rede corporativa, como se um funcionário mal-intencionado ou invasor que já obteve acesso inicial agisse contra os sistemas da empresa.
O objetivo é avaliar o que aconteceria se as defesas perimetrais forem vencidas ou se um insider tentar escalar privilégios. Esse tipo de teste revela falhas que um atacante com acesso à rede interna poderia explorar – por exemplo, credenciais default em servidores internos, compartilhamentos abertos ou falta de segmentação de rede.
Muitas das grandes violações ocorrem após o criminoso obter uma posição inicial dentro da rede (via phishing ou malware) e então se movimentar lateralmente. No Brasil, ataques como o ocorrido no Real Hospital Português (Recife) em 2024 mostraram que, uma vez dentro da rede hospitalar, invasores puderam paralisar sistemas críticos e até furtar equipamentos físicos.
Um pentest interno busca antecipar esses cenários, identificando até onde um invasor interno conseguiria ir e quão longe conseguiria comprometer ativos e dados sensíveis.
Pentest externo: foca em ataques vindos de fora da rede corporativa, simulando o papel de um hacker remoto que tenta invadir a organização através da internet. Avalia principalmente a superfície de ataque exposta publicamente – como websites, serviços em nuvem, VPNs, servidores de e-mail e outros sistemas acessíveis externamente.
O objetivo é identificar vulnerabilidades de perímetro (por exemplo, portas abertas indevidamente, serviços desatualizados, falhas em aplicações web públicas) e ver se através delas é possível entrar na rede ou acessar dados. Esse tipo de teste reflete os cenários de invasão mais comuns realizados por cibercriminosos ao redor do mundo.
No Brasil, por exemplo, ataques de ransomware frequentemente começam com vetores externos – como exploração de um servidor vulnerável exposto na internet. Um pentest externo bem conduzido localiza essas brechas antes dos atacantes, ajudando a empresa a corrigi-las. Conforme recomendado por especialistas, é importante realizar testes externos periodicamente, pois eles “procuram pontos fracos para compreender como um invasor poderia comprometer a rede e qual seria o impacto” caso obtenha sucesso.
Pentest em aplicações web e mobile: concentra-se em encontrar falhas de segurança em sistemas web, sites corporativos, APIs e aplicativos móveis (Android/iOS). Como grande parte dos negócios brasileiros opera online, aplicações web inseguras estão entre os alvos preferenciais dos atacantes. Nesse tipo de pentest, os analistas utilizam metodologias como o guia OWASP (Open Web Application Security Project) para testar as aplicações contra as 10 vulnerabilidades mais críticas de segurança web (OWASP Top 10), incluindo problemas como injeção de SQL, cross-site scripting (XSS), falhas de autenticação e controle de acesso quebrado, entre outros.
Em aplicativos mobile, avaliam-se também o armazenamento seguro de dados no dispositivo, comunicações criptografadas e mecanismos de proteção de código. Um exemplo prático: no caso Netshoes mencionado, uma falha em aplicação web permitiu o vazamento massivo de dados de clientes, aumentando o alerta sobre a importância de testar regularmente aplicações de e-commerce e corrigir vulnerabilidades antes que sejam exploradas. Pentests web/mobile identificam essas falhas lógicas e de codificação em sistemas voltados ao cliente final, evitando desde defacement de sites até roubo de informações pessoais e financeiras.
Pentest de engenharia social: verifica a resiliência da empresa contra ataques que visam principalmente o fator humano. Aqui, em vez de explorar softwares, o teste busca enganar pessoas – colaboradores, prestadores de serviço ou quaisquer usuários com acesso – para obter informações sensíveis ou acesso indevido.
As modalidades incluem phishing (e-mails fraudulentos), vishing (ligações telefônicas enganosas), smishing (mensagens SMS/WhatsApp maliciosas) e até tentativas de convencimento presencial. Esse tipo de pentest mede o nível de conscientização e treinamento de segurança dos funcionários. A relevância é enorme: estudos indicam que 74% das violações de segurança envolvem o elemento humano, seja por erro, uso indevido de credenciais ou golpes de engenharia social. No Brasil, campanhas de phishing seguem fazendo vítimas – como parte do ataque ao Siafi, em que e-mails e sites falsos induziram usuários a revelar credenciais e instalar certificados fraudulentos.
Em um pentest de engenharia social, os especialistas podem, por exemplo, enviar e-mails simulados de ataque para ver quantos funcionários clicam ou cedem dados, ou tentar induzir a equipe de TI a revelar senhas pelo telefone. Os resultados permitem reforçar programas de conscientização em segurança e ajustar políticas (como procedimentos de verificação de identidade em solicitações). Afinal, de nada adianta proteger os computadores se os usuários que os operam podem ser enganados com relativa facilidade.
Pentest físico: explora a segurança do mundo real, simulando tentativas de intrusão em instalações físicas da organização. Aqui, os testers assumem o papel de um invasor que tenta ganhar acesso não autorizado a escritórios, prédios, data centers, salas restritas ou equipamentos.
Verifica-se se portas, catracas, controles de acesso, câmeras e alarmes resistem a investidas criativas. Testes físicos comuns incluem tentar entrar em áreas restritas através de tailgating (seguir um funcionário desavisado pela porta), lockpicking (abrir fechaduras), clonagem de crachás de acesso, posicionamento de dispositivos maliciosos (como um pendrive com malware deixado em uma mesa ou um rogue AP conectado na rede interna) e até disfarces para enganar a portaria.
Também costuma abranger aspectos humanos, como verificar se seguranças conferem credenciais ou se funcionários questionam estranhos sem crachá (engenharia social presencial). Um pentest físico avalia se mesmo a infraestrutura mais tecnológica pode ser comprometida pelo “pé na porta” – literalmente. Afinal, “nem só de firewalls vive a segurança da informação”: se um criminoso e entrar no CPD e conectar um dispositivo diretamente no servidor, ele pode burlar diversas proteções digitais.
Esse tipo de teste ajuda a empresa a fortalecer suas barreiras físicas e procedimentos (por exemplo, política de visitantes, treinamento de recepção), já que uma invasão física bem-sucedida muitas vezes significa acesso irrestrito a ativos valiosos. Em suma, o pentest físico garante que a empresa esteja segura não apenas no virtual, mas também no mundo real.
Metodologias de pentest
Para conduzir um pentest de forma eficaz e confiável, os profissionais seguem metodologias estruturadas reconhecidas internacionalmente. Existem frameworks e normas que padronizam o processo, garantindo abrangência nos testes e repetibilidade nos resultados. Dentre os principais, destacam-se:
OSSTMM (Open Source Security Testing Methodology Manual): metodologia aberta que fornece um processo científico para testes de segurança operacional em diversos domínios (redes, telecom, humano, físico, etc.). Foca em coleta de evidências e métricas de segurança, servindo até como referência de auditoria. É mantida pelo ISECOM e é amplamente reconhecida como um padrão detalhado de testes de intrusão.
OWASP: no contexto de pentests, a OWASP provê guias como o Web Security Testing Guide e o Mobile Security Testing Guide, que orientam passo a passo como testar aplicações web e móveis em busca de vulnerabilidades. A OWASP também define a já citada lista Top 10 de riscos de segurança, muito utilizada como referência para pentesters web.
NIST (SP 800-115): o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologias dos EUA publicou o Technical Guide to Information Security Testing and Assessment, que abrange metodologias de teste de penetração e avaliação de segurança. Traz diretrizes desde o planejamento até a execução e relatório, sendo uma referência para órgãos governamentais e empresas alinhadas a padrões NIST.
PTES (Penetration Testing Execution Standard): é um padrão desenvolvido colaborativamente por especialistas, definindo 7 fases de um pentest – desde o pre-engajamento até o relatório final. O PTES busca delinear as boas práticas em cada etapa, incluindo técnicas de coleta de informações, modelagem de ameaças, exploração e pós-exploração. É bastante utilizado para garantir que nenhum passo essencial seja esquecido durante o teste.
Um pentest típico é dividido em fases bem definidas, que podemos resumir a seguir:
Planejamento e escopo: definição do escopo do teste (quais sistemas, redes ou aplicativos serão testados, em que condições), dos objetivos, do cronograma e das regras de engajamento. Nessa fase são alinhadas as expectativas com a empresa contratante – por exemplo, se o teste será caixa-preta ou branca, se haverá restrições de horário, quais IPs podem ser escaneados, etc.
É também quando se assinam os acordos legais (autorizações, NDAs) para assegurar que o pentest será conduzido eticamente. Uma preparação cuidadosa é essencial para que o time de pentest saiba o que pode ou não fazer e para que o cliente entenda os possíveis impactos e resultados esperados.
Reconhecimento e coleta de informações: nesta etapa, os pentesters coletam o máximo de informações possível sobre os alvos definidos. Isso inclui descoberta de endereços IP e domínios, levantamento de portas e serviços abertos, enumeração de usuários, mapeamento de rede, coleta de dados públicos (OSINT) sobre a organização e seus funcionários, etc.
É a fase de inteligência do atacante – quanto mais informação relevante reunir, maior a chance de encontrar pontos fracos. Ferramentas como Nmap, whois, scanners de vulnerabilidade, Google Hacking, entre outras, são muito usadas aqui. O reconhecimento bem feito identifica superfícies de ataque, versões de softwares possivelmente vulneráveis e outras pistas que orientarão as tentativas de exploração adiante.
Exploração de vulnerabilidades: de posse das informações coletadas e eventuais vulnerabilidades identificadas, chega a hora de atacar. Os pentesters tentam explorar as falhas encontradas para obter acesso não autorizado aos sistemas-alvo. Isso pode envolver desde ações clássicas como exploração de uma injeção SQL em um site, execução remota de código em um servidor desatualizado, ataques de força bruta a senhas, até técnicas mais elaboradas combinando múltiplas falhas.
O objetivo é conseguir acesso – seja entrar no sistema, ler dados sensíveis, alterar informações ou tomar controle de servidores. Muitas vezes utiliza-se frameworks como Metasploit para auxiliar na exploração. Aqui, o teste realmente simula ataques: por exemplo, tentar derrubar uma aplicação via buffer overflow ou roubar sessões de usuário via XSS. Uma vez obtido acesso inicial, os pentesters avaliam o que foi conquistado (uma conta de usuário? Acesso a um banco de dados?) e prosseguem para a próxima fase.
Escalada de privilégios e pós-exploração: após comprometer um alvo, o pentester verifica até onde consegue expandir esse acesso. Se obteve acesso a um usuário comum, ele tenta elevar privilégios para admin/root no sistema. Se invadiu uma máquina na rede interna, tenta movimentar-se lateralmente para outras máquinas conectadas.
Essa fase simula o que um invasor real faria após “colocar o pé na porta”: consolidar presença e aprofundar a invasão. Envolve técnicas como privilege escalation (explorando vulnerabilidades locais para virar administrador), captura de hashes de senhas e pass-the-hash, instalação de backdoors (web shells, por exemplo), captura de tráfego para roubar tokens, etc. Também se analisa o impacto: quais dados conseguiram ser acessados? Foi possível exfiltrar informação sigilosa? Conseguimos manter acesso persistente sem detecção?
Um bom pentest não para na primeira brecha, mas sim demonstra o alcance máximo que um atacante poderia ter combinando diversas vulnerabilidades. Por exemplo, os testadores podem começar invadindo o site, dali conseguir credenciais que reutilizam para acessar a VPN, e então na rede interna explora uma falha para virar administrador de domínio – encadeando vetores. Tudo isso é registrado para ilustrar caminhos de ataque completos.
Relatório e recomendações: por fim, encerra-se o teste documentando todos os achados. O relatório de pentest é um dos entregáveis mais importantes, pois nele constam: uma descrição das vulnerabilidades encontradas (de preferência com evidências e passo a passo de como foram exploradas), a classificação da criticidade de cada falha, o impacto que a exploração poderia causar no ambiente real e recomendações claras de como corrigir cada problema ou melhorar controles. Inclui-se também um resumo executivo, destacando os riscos de negócio identificados, e uma parte técnica detalhada para a equipe de TI reproduzir e consertar as falhas.
Muitas vezes, agendam-se apresentações de resultados para as partes interessadas. Um relatório bem-feito não apenas lista problemas, mas orienta a solução – por exemplo, sugerindo patches a aplicar, mudanças de configuração, treinamento necessário, melhorias de processos, etc. Idealmente, após as correções, realiza-se um reteste para verificar se todas as brechas foram efetivamente fechadas. Esse processo de feedback contínuo alimenta o ciclo de melhoria da segurança na empresa.
Seguindo essas fases de forma estruturada (há variações ou subdivisões conforme a metodologia escolhida, mas os passos básicos são equivalentes), o pentest garante abrangência e profundidade. A importância de uma metodologia formal está em garantir que nada seja negligenciado – do planejamento cuidadoso à entrega de um relatório acionável. Isso traz confiabilidade aos resultados: a empresa pode confiar que o teste realmente vasculhou seu ambiente da forma adequada. Em suma, metodologias transformam o pentest de uma ação pontual em um processo bem definido, cujo resultado é repetível e comparável a padrões internacionais.
Benefícios do pentest para empresas
Implementar programas de pentest regulares traz inúmeros benefícios tangíveis e intangíveis para as organizações. Dentre os principais, destacam-se:
Identificação preventiva de falhas críticas: O pentest permite descobrir vulnerabilidades ocultas em sistemas, redes e aplicações antes que criminosos as explorem. Trata-se de uma identificação proativa de brechas, muitas vezes incluindo falhas profundas de configuração ou lógica de negócio que scans automatizados comuns não detectam.
Ao encontrar essas fragilidades antecipadamente, a empresa ganha oportunidade de corrigí-las em tempo hábil, evitando incidentes. Em outras palavras, o pentest exerce o papel do atacante para revelar onde estão os pontos fracos, para que a organização possa remediá-los e reforçar suas defesas. Esse benefício preventivo é talvez o maior de todos: sai muito mais barato e seguro resolver uma falha em laboratório do que sob a pressão de um ataque real em andamento.
Teste real da eficácia das defesas de segurança: Diferentemente de auditorias ou análises teóricas, um teste de intrusão coloca à prova os controles de segurança implantados – firewalls, sistemas de detecção (IDS/IPS), antivírus, mecanismos de autenticação, backup e monitoramento. Ao simular ataques de verdade, é possível avaliar se tais defesas detectam e bloqueiam as ações maliciosas de um invasor habilidoso. Por exemplo, um pentest pode verificar se as regras do firewall estão consistentes (ou se alguma porta indevida foi deixada aberta), se o SOC da empresa reage a uma tentativa de exfiltração de dados, ou se um malware de teste consegue rodar apesar do antivírus. Essa verificação prática ajuda a validar a configuração e a eficiência dos mecanismos de proteção existentes.
Caso algo passe despercebido no pentest, é um indicativo claro de melhorias a fazer – seja tunar melhor o SIEM, revisar políticas de acesso ou endurecer configurações. Assim, a empresa obtém uma medida concreta do quão bem preparada está para um ataque real e pode aperfeiçoar sua postura defensiva conforme as lições aprendidas.
Redução de riscos de vazamento de dados e paradas operacionais: Ao fechar as brechas críticas encontradas nos pentests, as organizações mitigam significativamente a chance de sofrerem incidentes graves, como vazamentos de informações sensíveis ou interrupções causadas por ransomware. Os riscos empresariais – financeiros, legais e de imagem – ficam menores.
Estatísticas de mercado indicam que empresas que investem em testes de segurança têm menos incidentes e, quando eles ocorrem, o impacto tende a ser muito inferior. Isso evita prejuízos diretos e indiretos. Vale lembrar que uma violação de dados pode paralisar operações e gerar perdas milionárias: conforme mencionado, o custo médio de um incidente de vazamento no Brasil é estimado em R$ 6,75 milhões entre multas, danos e resposta técnica.
O pentest funciona como uma forma de “garantia” de continuidade de negócios – identificando cenários que poderiam levar a um desastre (por exemplo, um ataque que derrubaria todo o site de e-commerce) e permitindo tratá-los preventivamente. Em suma, pentests regulares equivalem a economia: o investimento em prevenção é incomparavelmente menor do que o custo de lidar com um incidente grave ou uma parada imprevista na operação.
Suporte à compliance e regulamentações: Muitos frameworks de conformidade e leis exigem avaliações de segurança periódicas, e o pentest ajuda as empresas a atender a essas obrigações. Por exemplo, o padrão de segurança de cartões PCI DSS exige a realização de pentests pelo menos anualmente e após grandes mudanças no ambiente.
Já normas como a ISO 27001 recomendam testes e revisões regulares baseados em risco, e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) demanda que as organizações adotem medidas técnicas eficazes para proteger dados pessoais – embora não especifique pentest, um relatório de teste de intrusão bem-sucedido serve como evidência de due diligence técnica. Setores regulados no Brasil também incorporam essas práticas: instituições financeiras sob o Banco Central precisam manter políticas robustas de segurança (segundo a Resolução BCB nº 85/2021), e a SUSEP (seguros) exige que empresas supervisionadas tenham processos para identificar e reduzir vulnerabilidades de forma proativa.
Dessa forma, os pentests facilitam cumprir requisitos de órgãos como Bacen, SUSEP, Anatel (telecom) e CVM (mercado de capitais) no tocante à segurança cibernética. Além do cumprimento normativo, há o aspecto de evitar sanções: falhas de segurança que resultem em vazamento de dados pessoais podem gerar multas e penalidades pesadas pela ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados). Logo, investir em pentest e correção de vulnerabilidades é também proteger a empresa juridicamente, demonstrando boa-fé e adoção de controles de segurança adequados perante reguladores e auditorias.
Valorização perante clientes, parceiros e investidores: Demonstrar um alto nível de maturidade em cibersegurança é um diferencial competitivo hoje. Empresas que regularmente realizam pentests e gerenciam bem seus riscos ganham credibilidade no mercado, pois sinalizam que levam a sério a proteção de dados e a continuidade do serviço. Por outro lado, uma companhia que sofre um ataque grave pode ter sua imagem abalada por muito tempo.
Realizar testes de intrusão contribui para “blindar o negócio” contra esses acontecimentos negativos e preservar a reputação. Clientes confiam mais em organizações que nunca tiveram incidentes públicos e que conseguem atestar (ainda que de forma resumida) que passam por avaliações independentes de segurança.
Da mesma forma, parceiros e fornecedores se sentem mais seguros em integrar seus sistemas a uma empresa ciber resiliente. Em alguns casos, pentests bem-sucedidos podem até ser usados como argumento comercial – por exemplo, ao participar de licitações ou concorrências, empresas de TI podem mencionar certificações ou atestados de segurança. Investidores também avaliam riscos cibernéticos como parte da due diligence; uma empresa que sabe e mostra como protege seus ativos digitais tende a ser vista como um investimento mais sólido.
Frequência e melhores práticas
Saber quando e com que frequência realizar pentests é uma dúvida comum entre gestores. A periodicidade ideal vai depender do perfil de cada organização, mas algumas melhores práticas são amplamente recomendadas:
Periodicidade regular (anual, semestral ou trimestral): Em geral, sugere-se executar pentests pelo menos uma vez por ano em todo o ambiente de TI. Muitas empresas optam por uma frequência semestral ou até trimestral em sistemas de alta criticidade. A regra é: quanto maior o risco e a exposição, mais frequente deve ser o teste. Ambientes de missão crítica (bancos, fintechs, grandes e-commerces, saúde) devem considerar ciclos trimestrais ou semestrais, pois as consequências de uma falha nesses contextos são catastróficas. Já sistemas internos isolados, com pouco acesso externo, podem ser testados anualmente – desde que combinados com outras medidas de segurança contínuas.
Em empresas com perfil de risco baixo, o anual pode ser suficiente; em empresas dinâmicas e visadas, intervalos menores são prudentes. O importante é não depender de um teste esporádico: realizar pentest só “quando der” ou de forma reativa (após um incidente) pode dar falsa sensação de segurança.
A recomendação do mercado é manter um calendário fixo, integrando pentests à rotina anual de segurança. Por exemplo: “Realize o pentest regularmente, com frequência anual, semestral ou trimestral, dependendo do nível de risco e da criticidade dos ativos protegidos”. Essa regularidade garante acompanhamento da evolução da segurança e identificação de novas vulnerabilidades que surjam com o tempo.
Após grandes mudanças no ambiente: Além da cadência predefinida, é crucial rodar pentests extraordinários sempre que ocorrerem mudanças significativas em sistemas ou infraestrutura. Se a empresa lançou uma nova aplicação web, migrou servidores para a nuvem, fez uma grande atualização em seu ERP, alterou regras de firewall, incorporou uma tecnologia inédita ou passou por uma aquisição/fusão de redes – qualquer dessas situações pede um pentest focado.
Isso porque mudanças costumam introduzir novas configurações e potenciais brechas. Em ambientes com desenvolvimento ágil e implantações frequentes (DevOps/DevSecOps, pipelines CI/CD), a prática recomendada é: realizar testes de intrusão a cada grande release ou então adotar um modelo de testes contínuos/automatizados integrados ao ciclo de desenvolvimento. Assim, a segurança acompanha o ritmo da inovação. Em suma, não espere o próximo pentest agendado se você acabou de revolucionar seu stack de TI – teste logo em seguida para certificar-se de que a mudança não abriu uma porta aos atacantes.
Contratação de empresas especializadas e independentes: Para garantir isenção e profundidade, é aconselhável contar com provedores externos de pentest, que possuam equipes experientes e certificadas. Embora muitas organizações tenham times internos de segurança talentosos, um olhar externo traz benefícios: os especialistas independentes têm repertório vasto de técnicas (por atenderem diversos clientes e setores), tendem a encontrar vulnerabilidades que a equipe interna – habituada ao ambiente – pode ter deixado passar, além de assegurarem uma avaliação imparcial.
Reguladores também enxergam com bons olhos testes conduzidos por terceiros, pois eliminam conflito de interesse de “auditar a si próprio”. Ao contratar, verifique credenciais, metodologia proposta e qualidade dos relatórios. Empresas especializadas seguirão padrões como OSSTMM/PTES, usarão ferramentas profissionais e atuarão com a devida cobertura legal. Isso não impede de se ter uma equipe interna de segurança; na verdade, o ideal é complementar: a equipe interna pode rodar scans frequentes e hardening contínuo, enquanto uma empresa externa realiza pentests profundos periódicos, num arranjo de “dupla verificação”. Vale ressaltar ainda a importância da independência para reportar achados sem viés – por exemplo, um consultor externo apontará fragilidades em sistemas legados sem amarras políticas internas, focando apenas na redução do risco.
Pentest pontual vs. programas contínuos (Red Team): Tradicionalmente, o pentest é visto como uma fotografia do momento – uma avaliação feita em dado instante. Nos últimos anos, porém, organizações mais maduras em segurança vêm adotando programas de Red Teaming contínuos, que são essencialmente extensões do conceito de pentest em caráter mais amplo e permanente.
Enquanto um pentest foca em encontrar vulnerabilidades técnicas, um Red Team simula campanhas de ataque persistentes, testando não só a tecnologia mas também pessoas e processos da empresa, de forma não anunciada e ao longo do tempo. O Red Team opera de maneira semelhante a um adversário real, tentando atingir objetivos específicos (por exemplo, obter acesso a um dado sensível) e avaliando também a capacidade de detecção e resposta do Blue Team (a defesa da empresa).
Essa prática costuma ocorrer de forma contínua ou periódica e pode durar semanas ou meses, em contraste com o pentest tradicional que é mais delimitado em escopo e tempo. Não são abordagens excludentes: o pentest pontual é ótimo para cumprir compliance e checar sistemas específicos, enquanto o Red Team fornece uma validação abrangente da postura de segurança como um todo.
Empresas brasileiras de grande porte (bancos, telecom, etc.) já começam a investir em exercícios de Red Team anual ou semestral, muitas vezes contratando provedores especializados que utilizam técnicas avançadas de ataque. A mensagem aqui é: se segurança é prioridade máxima, considere evoluir de uma mentalidade de “projetos de pentest” para um processo contínuo de teste. Em última instância, um red team é um pentest em ritmo e escopo ampliados, praticamente uma “operação de ataque simulada permanente”. Essa abordagem integrada – chamada às vezes de Purple Teaming quando há interação colaborativa entre Red e Blue – propicia melhoria de segurança o ano inteiro, e não apenas nos dias do teste.
Integração ao ciclo de melhoria contínua: Por fim, para colher todos os frutos, o pentest deve ser encarado como parte de um processo cíclico de segurança na empresa. Isso significa: após cada pentest, as vulnerabilidades descobertas precisam ser tratadas (correção de software, reconfiguração, treinamento de pessoal, etc.), e as lições aprendidas devem retroalimentar as políticas e controles.
É altamente recomendado realizar um reteste depois de implementar as correções, garantindo que os problemas foram sanados adequadamente e sem introduzir falhas novas. Muitas empresas incorporam em seus workflows pós-pentest a etapa de validação das correções pelos próprios pentesters. Além disso, os resultados do pentest devem ser discutidos pela gestão de riscos – por exemplo, falhas críticas podem entrar no registro de riscos da companhia até serem mitigadas a contento.
Integrar ao ciclo de melhoria também envolve monitorar continuamente o ambiente entre um pentest e outro: usar ferramentas de varredura de vulnerabilidades regulares, monitoramento de logs (SIEM), soluções de detecção de endpoint (EDR) e programas de conscientização de usuários. Dessa forma, a segurança se mantém viva no dia a dia, e quando o próximo pentest ocorrer, o terreno já estará mais fértil (menos falhas triviais, talvez). A ideia é transformar o pentest de um evento isolado para uma peça engrenada na estratégia global de segurança.
Empresas que alcançam esse patamar elevam consideravelmente sua maturidade, pois passam a medir, corrigir e melhorar continuamente sua postura de defesa. Em termos práticos: inclua pentest no planejamento anual de TI, com orçamento dedicado, e trate as atividades decorrentes (correções, retestes, auditorias) como indicadores de performance da área de segurança. Essa constância tornará a organização muito mais resistente a ameaças ao longo do tempo.
Resumidamente, um bom programa de pentest segue a filosofia do PDCA (Plan-Do-Check-Act): planejar e executar testes regularmente, checar os resultados e agir sobre eles, iterativamente. Frequência adequada, testes pós-mudanças, apoio de especialistas externos, uso de técnicas avançadas (red teaming) e integração a processos são as peças desse quebra-cabeça. Seguindo essas melhores práticas, a empresa sai do modo reativo e alcança um patamar proativo e preventivo, onde poucas surpresas desagradáveis conseguem escapar do radar.
Em suma, implementar o pentest de forma contínua aumenta consideravelmente a segurança dos seus dados, e ajuda a evitar ataques que trariam diversos prejuízos financeiros, além de danos à imagem da empresa e à credibilidade da organização. Ou seja, o investimento em pentest não pode ser enxergado como um custo sem retorno, mas sim como uma apólice de seguro contra incidentes catastróficos – um componente crítico de continuidade de negócios e de conformidade legal.
Avalie hoje mesmo a postura de segurança de sua empresa e considere agendar um pentest profissional. Transforme as lições de um ataque simulado em ações concretas de melhoria. Afinal, em um mundo digital repleto de ameaças, ganha quem conhece suas vulnerabilidades – e age antes que alguém as explore.